domingo, 23 de outubro de 2011 | By: Heloisa

O vale dos cavalos

Após o sucesso inicial de sua primeira obra literária, Jean Auel pôde viajar para diversos sítios e ruínas pré-históricas, e encontrar-se com os estudiosos com quem havia antes se correspondido. Dando sequência aos acontecimentos narrados em Ayla: a filha das cavernas, a autora relata neste livro, publicado inicialmente 1982, o capítulo seguinte da vida da jovem Ayla.



Na primeira obra, somos apresentados a Ayla, uma cro-magnon que é resgatada por um dos últimos clãs de neanderthais e, para sobreviver, não tem outra saída a não ser adaptar-se a suas regras e modo de vida. Vemos então como a menina é obrigada a desaprender a sua própria língua e substituí-la pela complicada linguagem gestual utilizada pelos clãs, adotar  e venerar a religião baseada em espíritos masculinos de animais, os totens, e, principalmente, aceitar a inexplicável superioridade masculina, ignorando todos os seus instintos.

Sob a proteção da curandeira e do Xamã do clã, Iza e Creb, o Mog-Ur, Ayla recebe uma espécie de batismo dos clãs, no qual foi formalmente reconhecida e posta sob a proteção do espírito do Grande Leão da Caverna. Instruída por Iza, a menina aprende a cozinhar, a tecer e a identificar e utilizar uma série de ervas  eficazes no tratamento de diversas doenças que porventura venham a acometer algum membro do clã. Guiada por seus instintos e curiosidade naturais, a criança comete o sacrilégio de aprender a caçar, tornando-se a melhor dentre todos os caçadores, e é severamente punida por ousar fazer algo proibido às mulheres. Seu comportamento desperta a ira do futuro líder do Clã, que tão logo chega ao poder, lhe dá o pior dos castigos: a expulsão.

Ayla e o espírito do Grande Leão da Caverna


É assim que começa a saga desse segundo livro. Aos 14 anos, Ayla está mais uma vez entregue à própria sorte, movida apenas pela determinação de sobreviver e encontrar seu próprio povo. Depois de quase perder as esperanças, a menina depara-se com um lindo vale, onde pasta todos os dias uma manada de cavalos selvagens. A partir daí o romance segue narrando o seu dia-a-dia, desde os preparativos que faz para o rigoroso inverso, até as soluções que encontra para suprir a falta de outras pessoas, e assim sobreviver sozinha.

Paralelamente à sobrevivência de Ayla, nessa parte da saga nos são introduzidos os chamados "Outros": através dos irmãos Jondalar e Thonolan, Jean Auel começa a apresentar as pessoas da mesma espécie de Ayla, em todas as suas peculiaridades, e, em especial, suas crenças. Afinal, mais do que as diferenças físicas e a capacidade de fala e adaptação, o elemento que mais caracteriza essa espécie como uma evolução talvez seja a concepção do sagrado feminino representado pela Mãe, e a consequente elevação da mulher ao mesmo patamar que o homem.

Diferente do primeiro livro, nesse não há a mesma intensidade de apresentação de novas pessoas e costumes, ao menos não sob o ponto de vista de Ayla. Aqui, a função de introdução do universo fica quase toda por conta de Jondalar e Thonolan, em sua viagem. Ainda assim, tanto nas partes em que acompanhamos os dois irmãos, como naquelas em que é narrado o dia-a-dia de Ayla, Jean Auel não falha em surpreender o leitor, através de situações inusitadas até mesmo para os personagens.

Talvez seja esse o motivo - a sensação de quase não haver mais novidades - pelo qual a maior parte das pessoas considere que houve uma queda de qualidade entre os dois primeiros livros, queda essa que supostamente torna-se vertiginosa a cada volume. Eu acho bem compreensível que hajam opiniões nesse sentido, uma vez que na primeira parte tudo é novo e empolgante, e cada novo acontecimento gera ou simpatia pela personagem principal, ou indignação pelos sofrimentos a que é sujeitada; enquanto que a sua continuação parece muito com um romance de cotidiano. No entanto, não entendo que esse aspecto, isolado, seja um fator de desvalorização, já que constitui simplesmente um outro estilo de narrativa.

Sobre esse aspecto, há quem ache esse tipo de livro chato, e eu só imagino que seja um desafio ao escritor tornar um livro com essa estrutura tão excitante quanto qualquer clássico de fantasia. Em o Vale dos Cavalos, o intercalamento de pontos de vista demonstrados (ora o de Ayla, ora o de Jondalar) cumpre bem essa função, já que, por vezes, o leitor depara-se com quebras de narrativa em momentos cruciais da trama, recurso esse, aliás, utilizado em outras obras.

Apesar disso, o ritmo narrativo ainda parece ser um pouco lento em comparação com o primeiro, fazendo com que a leitura se arraste por um tantinho mais de tempo. Se tivesse que dar uma nota ao livro, provavelmente oscilaria  em torno do 8, de forma que a leitura é agradável e o fim deixa uma curiosidade pelo próximo livro, mas não desperta a avidez de terminar o livro que outros tantos autores conseguiram imprimir em suas obras.
segunda-feira, 5 de setembro de 2011 | By: Heloisa

Ayla, a filha das cavernas

Vim conhecer a primeira parte da série Os filhos da Terra através do Fábio (aka Nappa_), que adquiriu há uns meses um exemplar da editora BestBolso. Logo na primeira página, a editora nos informa duas coisas: a primeira é que o livro foi inicialmente publicado em 1980, e a segunda é que se trata basicamente de um romance pré-histórico.



E foi justamente isso o que o tornou tão inovador. A Autora, Jean M. Auel, sabia que estava pisando em terreno pouco explorado pela literatura de ficção quando decidiu escrever um romance ambientado em uma época tão distante. Então o que fez ela? Pesquisou exaustivamente, tanto a ponto de arrancar elogios da comunidade arqueológica da época, por sua fidelidade ao retratar, como pano de fundo à própria saga da sua heroína, a história da humanidade.

As primeiras páginas nos apresentam uma menina assustada, que acabou de ver sua mãe ser engolida pela terra num horrível terremoto, provavelmente em algum lugar da Europa. A criança passa a vagar sem rumo, tentando sobreviver ao frio, à fome e aos predadores, quando, já ferida e exausta, entrega-se ao cansaço às margens de um pequeno rio. A sorte vem complementar-se ao instinto de sobrevivência que a manteve viva até então, quando é resgatada pela curandeira de um estranho grupo de humanos que, também afetados pela catástrofe que a deixou órfã, explora a terra em busca de um novo lar.

A garota é salva, mas ainda não é aceita. Perplexa, depara-se com a imensidão de diferenças existentes entre ela e seus salvadores, a começar pela linguagem, que quase não incorpora sons. De fato, esse povo parece incapaz até mesmo de pronunciar seu nome: Ayla. A menina não poderia saber, mas havia sido salva justamente por um dos últimos grupos de neanderthais, a raça que povoou o planeta antes do surgimento de sua espécie. Apesar disso, deixá-los para procurar a sua gente ainda não é uma opção, e Ayla luta dia após dia para adaptar-se e assim ser finalmente aceita pelo clã.



Ayla: a filha das cavernas, ao meu ver é, mais do que todo o resto, uma história sobre aceitação. Página após página, vemos a pequena Ayla crescer aprendendo que os sons que só ela é capaz de produzir com a boca são inadequados, que ela não deve correr, não deve chorar, não deve sorrir; assistimos dia após dia a marginalização da menina pelo clã, simplesmente por ser diferente. A noção que alguns membros do clã têm de que tudo o que faz parte dela é errado fica de tal forma enraizada na mente de Ayla, que um dia, quando finalmente tem um vislumbre de sua própria imagem nas águas mansas de um rio próximo à caverna, Ayla se acha de tal forma horrenda que mesmo ao deparar-se finalmente com a sua própria gente demora a aceitar que é absolutamente normal.

Mas não foi esse aspecto que fez a autora merecer o reconhecimento dos acadêmicos da área. Além de retratar em detalhes o desenvolvimento de Ayla, Jean Auel, graças às suas pesquisas, retrata o provável padrão de comportamento que teriam aqueles povos primitivos. A leitura, sob esse aspecto, torna-se ainda mais interessante, à medida em que percebemos nuances da suposta vida em sociedade da época, que guardam estreita correlação com o que sabemos ter sido a regra há  pouco mais de um século: o conceito da superioridade masculina, e a divisão nítida de tarefas entre o macho provedor e a fêmea, mãe e dona de casa.   É de fato um dos aspectos mais marcantes da obra, o de que apesar do leitor ter a todo o tempo consciência de que tudo teria se passado num tempo anterior à escrita, é inevitável traçar comparações com o que se experimenta atualmente, em maior ou menor grau, em diversos países do mundo. À medida que se vai avançando pela obra, têm-se a sensação de que, apesar de todas as diferenças entre o clã e Ayla, ou entre o clã e entre nós mesmos, diversos costumes e pensamentos permaneceram sendo a regra por muito tempo.



Além da caracterização do comportamento dos personagens e da reconstituição dos costumes, as extensas pesquisas da Autora são prontamente percebidas nas descrições minuciosas que é característica da obra. No livro, são descritos em detalhes os neanderthais, a própria Ayla, o território do clã e a fauna local, mas é a flora que realmente se destaca quanto à descrição de suas minúcias. Na verdade, há momentos em que esse aspecto chega até a ser um pouco cansativo, já que em praticamente todos os eventuais passeios de Ayla ela encontrará alguma planta, que terá alguma propriedade medicinal ou culinária, e junto à informação básica da descoberta do vegetal e de sua utilização primária, seguirá inevitavelmente uma série de explicações sobre em que terrenos crescia; em que época do ano; qual o tamanho médio e formato das folhas e flores. No decorrer da leitura, entendemos que provavelmente esse tratamento diferenciado à vegetação deve ter sido dado devido à sua importância para a própria Ayla, mas ao mesmo tempo fica a sensação de que talvez a leitura transcorresse mais suavemente se as descrições fossem menos minuciosas.



Ayla foi o meu livro de cabeceira por um tempo, e embora não pertença ao meu gênero preferido - a fantasia - agradou bastante, em parte pela curiosidade natural que a autora consegue despertar pelo desenvolvimento de sua protagonista, em parte pelo grau de semelhança entre os costumes neanderthais e os que ainda são atuais. De todos os livros da série Os filhos da Terra, apenas o primeiro ganhou uma versão cinematográfica de 98 minutos de duração, feita em 1986, e estrelada por Daryl Hannah, no papel de Ayla.




domingo, 27 de março de 2011 | By: Heloisa

A Batalha do Apocalipse

 

E conforme prometido, o post sobre ABdA. Porque ele? Porque foi a leitura mais recente, oras! Terminei  agorinha e ainda tenho tudo na cabeça. Então bora lá, e de preferencia sem um milhão de spoilers.=D

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Antes de se entrar na trama em si, é importante falar sobre como o livro do Eduardo Spohr se tornou tão  popular. Por ter sido escrito, publicado e divulgado numa época de democratização da internet, o lançamento independente, que em outras eras poderia ser um sinal de fiasco, acabou se tornando um enorme sucesso.  Lançado em parceria com o Jovem Nerd em 2007,  a obra conquistou, apenas com a divulgação na internet, a marca impressionante de 4.000 cópias vendidas e incentivou, em 2009, a criação da Nerdbooks, a editora do Jovem Nerd.

Como o nome sugere, A Batalha do Apocalipse fala, basicamente, do fim do mundo, mas provavelmente o faz da forma mais épica possível. A trama se desenvolve a partir da versão bíblica do Armaggedon, que nada mais é do que os relatos de uma visão que São João teria tido na Ilha de Patmos, após a ascensão de Jesus Cristo, sobre os últimos dias da humanidade. O Autor cria então, a partir desse texto milenar, uma história de conspirações e conflitos no plano celestial, que coincide não apenas com os textos da própria Bíblia, mas com mitos de diversas civilizações.

Além do apelo para o próprio tema apocaliptico, A Batalha do Apocalipse se destaca pelo estilo de escrita e pela ausencia de uma historia linear. A linguagem não chega a ser rebuscada a ponto de comprometer um fluir leve, mas sem dúvida mostra a amplitude de vocabulário do autor. Além disso, a construção do texto é peculiar, marcada por interrupções para longos flashbacks, coisa que agradou muita gente.

Aqui começam a entrar minhas opiniões pessoais: sem dúvida é ótimo ler algo bem escrito, sem muitas repetições de termos e redundancias. Mas esse  principio parece ter sido levado bem ao pé da letra, e no decorrer da leitura nos deparamos com a substituição, as vezes excessiva, até mesmo dos nomes próprios, por outros termos. Os anjos nos são apresentados a partir de sua posição na hierarquia celeste e sua participação nas batalhas do etéreo, então cada um vai ter um, dois, tres titulos, que são utilizados à exaustão não apenas na voz do narrador, mas também nos diálogos dos personagens. É como imaginar que você vai falar com, sei lá, Muriel – a mais linda, e diz algo como  “E aí A mais linda, bora pro cinema”. No exemplo parece  muito com cantada de pedreiro, mas a sensação que eu tive foi essa mesmo.

Fora isso, tem a questão da linearidade da história. O Spohr optou por contar tudo no tempo em que a Guerra acontece, e todo o passado relevante dos personagens é contado através de pelo menos três grandes flashbacks. O resultado? A todo o tempo somos interrompidos na historia, e jogados a algum momento historico ou lendário de relevancia, ocorrido, real ou supostamente, à centenas de anos. As críticas positivas afirmam que é esse o fator que dá dinamismo à trama, e que os fãs de Lost – e aqui eu arrisco tambem Naruto – já estão habituados com isso. Já eu me incomodei no começo, principalmente porque essas historias paralelas – os flashbacks – são tão longos que se você for só sentar e ler, corre o risco de perder o fio da meada, e demorar a se situar novamente quando eles acabam. Isso de forma alguma tornou a leitura ruim, mas eu, que tenho umas frescurinhas com isso, demorei mesmo a me acostumar (eu tambem não sou fã de livro em primeira pessoa, mas isso não vem ao caso).

O livro também está recheado de elementos presentes em outras obras que tratam do divino. Como não lembrar de Anjos Rebeldes, quando nos deparamos com o evidente ciúme que os seres humanos despertam nos anjos e arcanjos de Spohr? Ou Dogma, que traz como tema central a busca de redenção de anjos expulsos do paraíso? Até mesmo a caracterização dos anjos como seres de beleza e iluminação, e dos demonios como criaturas horrendas, nojentas e decadente reproduz até certo ponto a idéia do bem e do mal visivelmente delimitados, que é a todo tempo abordada (e frequentemente negada) por outras obras.

Enfim, recomendo. Pra quem quer ler uma aventura épica, ou ocupar aqueles minutos antes de dormir em que você fica rolando na cama antes de pegar no sono, sem dúvida A Batalha do Apocalipse vai satisfazer bastante. Bora agora sentar e esperar algo novo do Eduardo Spohr…

Fontes:http://revistapegn.globo.com/Revista/Common/0,,EMI126091-17385,00-AMIGOS+LANCAM+SELO+DE+LIVROS+E+FATURAM+R+MIL+COM+APENAS+UMA+OBRA.html

http://tarjapreta.org/2010/06/03/a-batalha-do-apocalipse/

sexta-feira, 25 de março de 2011 | By: Heloisa

Apresentação

 

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Todo mundo que foi criancinha nos anos 80 – ou todos que o foram no Brasil – lembra daqueles inocentes programas educativos, que passavam na TVE, na Cultura, ou em tantas outras emissoras. Quem não lembra de Castelo Rá-Tim-Bum, o Mundo de Beakman, ou Agente G? Desses, eu gostava de um quadro do Rá-Tim-Bum, o “Senta que lá vem a história”, que trazia fábulas encenadas com objetos, e daí que veio o título do blog, apesar de ser pouco provavel que o conteúdo aqui seja relacionado com  qualquer coisa daquela época.

A propósito, meu nome é Heloísa, e eu moro em João Pessoa. Não sou jornalista, não sou escritora, e nem me considero um grande gênio oculto da literatura; sou só uma moça que sempre gostou de tudo que carregasse um pouco de fantasia em sua essência. Em minhas andanças pela internet tenho visto, de uns tempos pra cá, que apareceram muitos bons blogs voltados pra um tema especifico, e que fogem daquela premissa inicial de ser “um diário que todo mundo lê”. São blogs sobre moda, TV, cinema, casamento, Cultura Pop, e, porque não, o famigerado blog milionáro da Maria Bethânia, que, todos os dias, trazem um pouco de conteúdo  ou reflexão sobre alguma coisa.

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O caso é que desde pequena gostei de ler. Talvez por ter crescido observando o exemplo da minha mãe, talvez por ter tido a sorte de ter pego, de primeira, um livro que não era só pra crianças, mas que as tinha como foco – falo de As aventuras de Tom Sawyer, do Mark Twain, não sei. Mas assim eu cresci, desenvolvendo um gosto peculiar por literatura fantástica. E esse, até o momento, é o tema central deste blog: livros. Não só livros, mas publicações como HQs e mangás, que, cada um de sua maneira, tambem se propoem a nos contar histórias.

Então é isso, em breve começarei a registrar impressões acerca de algumas coisas que se encontram nas livrarias da cidade. Ou na internet. Apesar do blog não estar restrito  a isso, já que eventualmente algum evento possa me motivar a falar de algo mais pesssoal, provavelmente começarei com algumas palavras sobre A Batalha do Apocalipse, do Eduardo Spohr. O layout bonitinho é temporário, em breve estarei fazendo testes.

Até mais! o/